terça-feira, 28 de julho de 2009

As reticências valem mais do que um ponto

Outro dia o rapaz com ares de poeta quis representar seu pensamento em palavras escritas numa noite fria de inverno.

Começou se enrolando em uma colcha de retalhos antiga, tradição de família, herança de sua bisavó. Sentou-se em frente ao computador e iniciou um texto sobre O Teatro Mágico. Mas lá pela segunda linha, no primeiro ponto final, pensou melhor e apagou tudo.

Pensou então no que poderia ocupar sua mente ao invés da música do Teatro em forma de poesia.

Pensou, refletiu, ao som de "Segundo Ato", e decidiu que escreveria sobre as tantas, várias reticências que utiliza em sua vida.

As reticências não terminam uma frase. Elas deixam o pensamento em aberto. Os pontos finais finalizam (óbvio) um pensamento. Eles encerram a reflexão.

O rapaz continuou pensando e graças as reticências, foi para mais longe... Subiu naquele balão, e avistou o horizonte do universo. Não conseguia acreditar que tudo aquilo caberia em uma casca de noz. Atravessou o Universo, conforme Os Besouros, sem saber o caminho que tomava. Apenas sabia que deveria encontrar suas reticências...

Olhou para baixo. Tantas pessoas, tantos sentimentos, aquela infinidade de sensações o deixava orgulhoso de pertencer a raça humana.
Ao retornar; ao colocar os pés no chão novamente, percebeu que o final seria o começo daquilo que já havia começado. Que sua história estava em andamento, e que ainda faltariam muitas páginas, muitos capítulos.

E o mundo é perfeito dizia o iTunes. Não teria como discordar dele. Não agora. Que conhecia o ponto final de forma tão complexa.
Deu um tempo ao texto e foi fazer um chá quente com biscoitos... Numa madrugada fria, olhando para o celular, seria mais fácil lidar com a mensagem. Com o cotidiano apresentado aos olhos do poeta.

E lembrou, como ouvia, que deveria continuar se lembrando de celebrar muito mais. E que a sina nossa não existia. Apenas a sina de cada um. "E o que fazer com ela?" perguntou o rapaz/poeta? Um leve, profundo, claro e escuro silêncio tomou conta de sua consciência.

O rapaz lembrou de um filme, e a frase surgiu marcante em sua mente: "SOMOS MENOS MISTERIOSOS DO QUE ACHAMOS SER".

O ponto final é a assinatura num quadro de um artista. É a moldura numa fotografia. É o crédito final num filme. Já as reticências são o processo de pintura. O enfoque da lente. A filmagem de uma cena.

Novamente olhou para o céu, e percebeu que as reticências do universo encontravam-se dentro dele...

domingo, 12 de julho de 2009

Notas sobre uma Saga


E Amanheceu. O Céu cumpriu com sua rotina, e após o Crepúsculo, o nascimento da Lua, sua junção com o Sol, amanheceu.

O que poderia ser mais prático, lírico e sentimental do que a verdadeira sensação de novidade? A realização de uma vida. A aceitação de uma condição e de um sentimento.

Uma saga é uma história épica. É apresentada aos poucos, devagar, porém com certa intensidade. Ao pensar em saga, lembro-me de "Cem anos de Solidão" do bom e velho Márquez. Uma história que se desenrola em um longo palco, com um enorme pano de fundo.

A Saga possui 4 livros: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer. E apesar dos rótulos (muitos, diversos e alguns sem qualquer embasamento), pensei em sua essência.
A descoberta, a dor, a divisão e a integração. A Maçã, a Pétala, A Fita e o Xadrez.
4 símbolos que exprimem a verdadeira sensação da vida. A busca por seu papel em um mundo cada vez mais distante e diferente daquele que aprendemos a conviver. E viver. As escolhas que a vida apresenta e suas responsabilidades advindas desta.

A História de Bella é a busca por seu lugar no mundo. Por sua auto-aceitação. E ao conhecer Edward, percebe sua diferença. Sua própria diferença. O fato de Edward esconder um segredo, instiga a protagonista a refletir sobre sua vida, suas realizações e sonhos. Crepúsculo, assim como o nascer do sol, apresenta a beleza da juventude. Apresenta os medos e angústias próprios desta etapa da vida. Edward não é um vampiro, mas sim um símbolo da diferença, do desconhecido. Daquilo que temos medo em nós mesmos. E Bella inicia uma busca por seu interior. Uma caminhada por seu auto-conceito.
O sol se põe, e uma nova lua surge no céu. Bella deve lidar com a perda. Com a aceitação e com a re-significação de algo em sua vida. Um luto. Uma perda. E uma esperança. Lua Nova é a elaboração de um luto e a re-significação de uma história. É o desespero, a angústia e agonia de uma situação traumática. A separação. A dor existencial através de único ato. De um esquecimento forçado. De uma mudança paradigmática. É a negação da perda; a raiva da separação; a criação de um acordo pela estabilidade; o choro pela dor e a aceitação pela vida. É o amor que surge no céu como um novo momento para equivalentes acontecimentos.
Ao se unir com o Sol, cria-se um Eclipse. A Lua e o Sol unem-se ao redor de Bella. O quente e o frio. Bella é a mediadora e prossegue em seu processo de escolha. Dúvidas surgem, o medo permanece. Com o Eclipse, a vida apresenta uma reviravolta. Seus estudos terminam e ela se vê presa em uma condição. O passado retorna e com ele, possíveis caminhos começam a surgir. Sua esperança fica por um fio. E ela não se sente completa. Não daquela maneira. Na Mitologia Grega, os oráculos eram responsáveis pelo fio da vida dos mortais. Ao se cortar o fio, o humano morria.
Após uma noite de Eclipse, amanhece para um novo dia. Uma nova vida. Um novo despertar. Em Amanhecer Bella escolhe. O ato de escolher apresenta a maturidade e o crescimento. Surge a união, a integração. Sua independência, seu crescimento. Bella passa de garota para mulher. Apreende sua nova condição e luta por ela. Passa a desempenhar um papel de protagonista em sua própria vida. Suas escolhas apresentam imposições. Sua nova condição obriga que ela mate parte de seu passado para dar lugar a seu futuro. E nessa escolha, nesse ato, nesse pensamento, entra em sua própria estrada. Bella amanhece para a vida que escolheu. Para a existência que ajudou a construir. E segue, consciente, por sua estrada de tijolos amarelos.

Tal Saga é mais do que um romance-adolescente. É um exemplo de escolha. É o reforço de uma ação. Indica o livre-arbítrio e a livre expressão. Surge o conflito, o medo, a insegurança; mas também o amor, a liberdade e o amadurecimento. É um chamado para a diferença. E para o sentir-se diferente. É uma vida. Mesmo que de forma ficcional, é um motivo de reflexão.
É a Maçã da tentação, da dúvida. É a pétala despedaçada da agonia, da desilusão. É a fita da desunião e do renascimento. É o Xadrez da liderança, e da escolha.

A Saga é a representação daquilo que mais é característico do ser humano. O dom de sentir.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Medo é...

Outro dia tive que pensar no medo. Sei que o medo é um sentimento primitivo do homem, que o acompanha desde que ele conheceu sua subjetividade. Mas o que é o medo?

O medo tende a levar a paralisação. O medo segura a ação e condena o pensamento. O que é sentir medo? É a covardia nos braços daquele que pensa. É o Leão de O Mágico do Oz andando na velha trilha de tijolos amarelos.

O medo condena. O quê? O medo paralisa. O quê?
Tive que pensar no que tenho medo (além de aranhas). Como faço para mudar esse medo? O que me motiva a ter medo?

As ações rumo ao desconhecido são um ponto de meu medo. A insegurança em saber se aguentaria o tranco é outro ponto. Descobri que meus medos estão ligados a verbos. Verbos que garantem a total paralisação do ser.

Medo é estar ansioso perante aquilo que não se sabe. Medo é não querer se deixar levar pelas emoções. Medo é desacreditar. Assim como o poeta pensou no amor, teve que pensar no medo. Medo é a ação do boicote. O sentimento de medo é desesperador. Ele catalisa e agiliza a dor.
Medo é não querer sentir a frustração. Não querer se dar por vencido. Não aceitar as limitações.

O meu medo é do futuro. Daquilo que quero construir mas não sei como. Precisava pensar sobre o medo, mas não tive coragem. O Mágico de Oz precisaria de diversos diplomas de coragem para entregar aos medrosos. Aos covardes. Aqueles que são imobilizados pelo sentimento primitivo.

O meu diploma explode na parede. A construção do meu futuro depende exclusivamente de mim. Nomear meus medos interiores é trabalho árduo, porém não impossível. Descartes dizia: "Penso, logo existo" como sendo o pensamento antecessor até mesmo da própria existência. Digo eu, completando Descartes: "Penso em meus medos, logo existo!"

Pensar é um ato involuntário, assim como o bater do coração. Mas pensar sobre aquilo que me amedronta, é uma escolha; e uma escola. Meus medos são minhas inseguranças guardadas em baús no sótão de minha mente. Mentes Perigosas.

O medo é a angústia da perda, é a ansiedade da resposta. É a ânsia pelo exagero.
Conforma-me saber que o medo é intrínseco ao ser humano. Assim como a raiva, como o ciúme, como o amor; o medo é o frio na barriga da incerteza.
Aceito a ideia. O meu medo é igual ao de todos, porém o objeto do meu medo é único. E em conjunto com minhas inseguranças, surge a sensação de solidão. O medo antecipatório de estar sozinho; de ficar sozinho. De me perder em minhas jornadas.

Dom Quixote visitava os moinhos. Mas tinha Sancho.
Chico-Chicote era o Cavaleiro da poesia! O Guardião da Palavra! O Guerreiro das Ideias! Mas tinha Rosicler.
Bentinho teria Capitu. Mas a solidão o consumiu. Quirino queria Maria, mas ela já era do Pássaro.

A solidão é o medo. O medo é a ação. E o sorriso se vai. O coração sente. E a alma libera uma pequena lágrima... pequena, ou média.
O poeta fingiu todas as dores que deveria ter tido. Mas esqueceu-se que a solidão era uma das principais.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ainda existem (E)stórias?

As histórias são escritas por aqueles que conhecem seus desenvolvimentos. Elas surgem como pequenos turbilhões de emoção perdidos no meio do oceano do ser.
As histórias são o reflexo da essência. Simbolizam o vai e volta da inconstância humana.
As histórias representam um passado que ainda nos afeta.

Nossas histórias precisam de trilhas sonoras. Precisam de efeitos especiais. Tentei colocar o iTunes, ou o iMovie pra funcionar. Mas mesmo assim, foi pouco. Claro, ficaram belíssimos projetos, mas não consegui captar minha essência.

Para isso, arreguei. Pedi ajuda para a Vanessa, que prontamente resolveu parte do meu problema, da minha angústia.
Iniciaria esta história (se é que Estórias existem), com Ainda Bem. Lá pro meio pensaria em Amado, e Um dia, Um Adeus, até que culminaria em Boa Sorte/Good Luck.
Algumas frases, com melodias para selar um momento de vida. Uma etapa de construção. E um redemoinho de informações.
Começaria com a alegria estampada no rosto. O sentimento avançaria, porém não de maneira recíproca. Até que terminaria. Encerraria.
Mas a vida, com suas reviravoltas, com seu redemoinho, tornou-se real demais. E as músicas, pois mais belas que fossem, não cumpriram seu objetivo. Os efeitos especiais, por mais definidos que fossem, não aguentaram a realidade.
E novamente, as palavras foram pouco pra expressar o verdadeiro sentimento. E entre atos, comportamentos, palavras, lágrimas, e a mistura de tudo; a estória transformou-se em história. Em passado. Em era uma vez, sem o viveram felizes para sempre.

E Boa Sorte.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Amor é...

Outro dia o poeta se apaixonou. O artista amou. E o homem sentiu.
Outro dia, o sentimento surgiu na forma de uma carta. Na forma de uma canção. Na forma de uma rosa. Não daquela rosa branca, triste.
Outro dia, aquele sentimento que os poetas se perderam, que os artistas se frustraram, o homem sentiu.
E tentou defini-lo. Sentou em frente ao seu computador. Abriu o editor de textos e colocou o título: Amor é... (reticências)
Lembrou daquela música do Legião Urbana, com a letra de Camões:

"Amor é fogo que arde sem doer. 
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer."

Não poderia competir com tais palavras. Nunca. Mas poderia tentar. E com uma música de fundo, pensou em como poderia descrever sua idéia de amor. O que seria amor. Como defini-lo. 
Lembrou que amor era conquista e renúncia. Era estar e ser. Era amar e ser amado. O AMOR é amar. É estar amando. É ser amado. O sentimento amor engloba todas as formas que a palavra fornece: verbo, substantivo, adjetivo. Está tudo lá. 
Mas ainda assim não conseguia defini-lo. Sua cabeça doía pois precisava encontrar o verdadeiro sentido para o amor.
A música iniciava por uma pergunta: Como pode ser gostar de alguém, e esse tal alguém não ser seu? E prosseguia com uma bela declaração. Declarar. Dizer. Verbalizar.
O amor então obriga o ser amante a declarar-se? Sim! De alguma forma, o sentimento é intenso. Forte, que chega a sufocar. E da maneira mais simples, ele surge e afeta o outro.
Mas o amor também é renúncia. É saber dizer o Não; e terminar a história com o ponto final.
Outro dia o garoto percebeu que não existiam princesas. Mas existiam rainhas. Existiam dragões, obstáculos e florestas de espinhos para impedir o encontro.
Percebeu também que o amor era encontro. Era a união de duas pessoas no tempo certo no local exato. Mas era também o olhar de descoberta.
Pensou que amor poderia ser oportunidade. Não conseguiu pensar muito nisso, mas refletiu. E o que seria o ato de refletir senão o movimento de olhar a si-próprio? Refletiu. Pensou. Elaborou. E percebeu que o amor não possui definição.

"É só isso,
Não tem mais jeito,
Acabou,
Boa sorte

Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado,
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais,
Expectativas,
Desleais."

domingo, 31 de maio de 2009

Rosa Branca


Acredito que a vida é feita de ciclos. Uns são iniciados; caminham para seu desenvolvimento e terminam. Acabam. Encerram.
Há nove anos exatamente, um ciclo da vida terminou. Acabou. Encerrou-se. Há nove anos atrás, uma dor enorme tomou conta daquele coração; um vazio tomou conta daquela alma e uma melancolia tomou conta daquele sorriso.
No dia 31 de maio de 2009, eu conheci a rosa branca, que faria sentido pra mim somente alguns anos mais tarde. Naquele dia, no período da manhã entreguei uma certa prova de física em branco, e quase reprovei. Naquele dia, não dei meu abraço costumeiro e nem meu beijo de despedida. Naquele dia, naquele fatídico dia, não teve uma palavra de graça. 

"Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou. Vai ser difícil sem você, porque você está comigo o tempo todo e quando vejo o mar, existe algo que diz, que a vida continua e se entregar é uma bobagem. Já que você não está aqui, o que posso fazer? É cuidar de mim. Quero ser feliz apenas (...) Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?"
(Vento no Litoral - Legião Urbana)

Desde aquele dia, daquele ano, que o dia de hoje é celebrado com a memória. Com a saudade. Com a inspiração de que o hoje foi melhor que o ontem e será pior que o amanhã. A inspiração daquilo que tive como ideal por um bom tempo. Transformar aquela dor, lá do início, em saudade e conforto.
Muitos me disseram que é a ordem natural da vida. Outros, que a viagem foi tão longa que só verei aos 90 anos. Outros não disseram nada. Aceitaram o fato, e com um simples abraço, um simples beijo, uma SIMPLES ACAO, conseguiram abrir seus corações e confortaram-me da mágoa.

"Se sua mãe tiver passado desta vida para a outra, você escolherá a flor branca, e a guardará sempre sagrada em seu coração. Que a presença desta flor sempre desperte as felizes memórias dela  e lhe fortaleça em seus esforços para ser digno das esperanças e aspirações dela por você."
(Cerimônia das Flores - Ordem DeMolay)

A falta é grande. O ciclo sem um dos meus pilares prossegue sua jornada. Foram-se alguns acontecimentos importantes da minha vida; mas a lembrança nunca se dissipou. Disseram-me também que o tempo curaria todas as feridas. Mas como toda boa ferida profunda, sempre sobra a cicatriz. Poderia retirar a cicatriz, mas estaria tirando uma parte de mim junto dela.
A dor é menor. E as pessoas queridas, sabem exatamente o que fazer. E elas, inconscientemente, ou até de propósito, executam a melhor ação ou palavra.
Os agradecimentos para as pessoas que me auxiliam nessa caminhada seriam infinitos. As portas abertas, o aconchego, são inexplicáveis.
O dia 31 de maio de 2000 foi a tristeza concretizada em uma notícia recebida dentro de um Uno Vinho. Foi sentida por um abraço de uma irmã especial. Foi introjetada por um último sonho. Uma última visão de um sofá, um filme, e o tão cobiçado momento de despedida. 

Eu te amo. E não tenho mais palavras para exemplificar isso... 

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Era uma vez...


Muitas históricas começam com uma simples frase. E essa simples frase surge carregada com um forte sentimento simbólico de fantasia. 
O "Era uma vez" é a fantasia que não se pode introduzir na realidade. A questão então, é conseguir definir a realidade da fantasia. 
Gostamos de pensar que a fantasia é aquela cena daquele desenho animado da Disney "A Bela Adormecida", onde a princesa dança com diversos animais fantasiados de príncipe. Ao som de "Foi você num sonho bonito que sonhei... e vai".
Gostamos de pensar que a realidade é aquilo que aparece nos jornais (TV, internet, impresso).
Gostamos de pensar que enquanto a realidade nos amplia a consciência; a fantasia nos aprisiona em nossos desejos.
Até que surge uma nova história. Um novo momento. Um belo significado para interpretar.
E com isso, a fantasia toma o lugar de demonstração da realidade. De interpretadora dos fatos cotidianos. De luz no final do túnel. De possibilidade para a mudança. E nos pegamos compreendendo a realidade através da fantasia.
Os adultos começam as histórias para as crianças com o "Era uma vez..." (Once upon a time... para os mais elitizados). E o início simboliza a compreensão do ambiente. Através do onírico, acordamos para os fatos da vida.
O que seria a vida sem o sonho? Será que agentaríamos as notícias sem a abstração fantasiosa daquilo que assistimos por nossas janelas?
"Era uma vez um sentimento que atravessou séculos, milênios e décadas. Que nem poetas, comediantes ou ilusionistas puderam defini-lo. Mas que é inerente e construído dentro de cada um. Era uma vez o amor. Que une a fantasia com a realidade. Que une os corações com as mentes".
Assim como o Era uma vez inicia nosso processo de abstração, o "Viveram felizes para sempre" o encerra. 
Era uma vez um balaio que chegou a transbordar de tantas idéias mal compreendidas. Mas ao juntá-las novamente, viveram felizes para sempre.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O que será?


Outro dia o poeta se perguntou se o céu estaria alí naquela manhã de chuva. Depois se perguntou o motivo de tal indagação.
Pegou o livro que lia, abriu nos últimos capítulos, já no finalzinho e iniciou sua leitura. Sem pensar. O Poeta não pensou e não viu o que lia. Nada.
Apenas pensava no céu. E olhava para a chuva forte de sua janela. Pensava em momentos específicos de sua existência, em acontecimentos e oportunidades deixadas para trás. 
Passado. Não queria saber do passado. Não mais! Não assim! O poeta, que se sentia um artista em alguns momentos, viu em sua arte a fuga para a dor. E para o sofrimento.
Viu sua criação como a porta de entrada para a concretização de seu desejo. Para a realização de sua vontade. Qual seria? Isso ele iria descobrir. 
Lembrou-se daquele girassol do passado. Sempre o passado com sua forma regular e metódica. Queria a inconstância do futuro! Mas lembrou-se daquela flor que segue o sol. E com isso, abstraiu o comando de sua vida. 
Olhava para o livro, largado na cama, com a página amassada. Não procurava as palavras escritas. Queria escrever as suas palavras. E escreveu.
E foi mais ou menos isso que saiu:

"Hoje acordei com a chuva batendo em minha janela. E os pensamentos desta manhã fria apenas surgem para confirmar tudo aquilo que já sabia. Percebo a vida como o rio que Heráclito dizia, e as frases de Sócrates são o meu despertador. O Problema, é que elas literalmente despertam a minha dor".

Aquilo não poderia continuar assim! O poeta tinha o direito de seguir e encontrar a felicidade. Mesmo confortável. Mesmo conformado. Ouviu a música que entrava cortando seus ouvidos; deu-se conta que sua situação era assunto que ele deveria resolver.
O Poeta sentou com seus sentimentos em uma mesa. Tentou discutir os pontos de desenvolvimento, de evolução; mas nada acontecia. Nada. Parou, pediu a conta, retirou-se e chegou em sua casa. Sentou-se em frente ao seu MacBook e escreveu. 
Iniciou escrevendo o título deste texto. E terminou com este ponto final   .

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sentimento Cinematográfico


O Cinema tenta imitar a vida. Fato.
Agora, que em muitos momentos, ele consegue ser melhor, esteticamente falando, é verdade. Fato 2.
Sempre pensei em uma música para os momentos românticos. Algo parecido com uma... trilha sonora. Isso! "Caco's Love Moments Soundtrack". (Em inglês fica mais bonito).
Quais músicas estariam naquela playlist? Como casa-las corretamente ao momento, usando apenas um iMovie simples?
A resposta é que não sei se conseguiria o mesmo impacto. Como interpretar um sentimento genuíno de forma tão cinematográfica? Como?
O Ator se viu na encruzilhada da vida. E perguntou-se se valia a pena investir. Sempre valeria a pena, e ele investiu. "Flightless Bird, American Mouth" começou ao fundo. Enquanto seguia em frente, suas pernas tremiam, seu coração batia forte, como se estivesse na boca. E ele não parou em momento algum.
O Ator misturava-se com seus personagens. Mas era ele mesmo. E a grande muralha que colocava em si, cada vez apresentava-se mais cristalizada. Daqui a pouco, o ator estaria dentro de uma sala de cinema, assistindo sua própria vida passar. Sairia apenas para encher o refil da pipoca; e comprar outro refrigerante.
O ator estava perdido e não sabia como sair da areia. Queria encontrar o sentimento genuíno, mas nem o cinematográfico conhecia. Percebeu que estaria sozinho caso tivesse que sair do cinema; não haveria ninguém para contar a parte que perderia do filme, da sua vida!
Aquilo era desesperador. O desespero era genuíno, mas não poderia ser só isso! Não! Deveria haver algo mais. E a alegria, a felicidade, o bem-estar? Isso era cinematográfico. O Ator não sabia como interpretar, pois nunca havia sentido tal sentimento de pertença que tanto almejava.
O Ator então, percebeu que enquanto continuasse a interpretar os sentimentos, eles nunca passariam de cinematigráficos para genuínos. Sempre continuariam sendo a mentira de uma noite onde nem sequer a lua quis mostrar sua força.
O Ator enclausurou-se em sua tela plana, com seu som Dolby Surround 7.1 e continuou assistindo aquele filme em formato Blu-Ray. Claro, a moda agora, é alta-definação.
Mas o pensamento continuava em sua mente. Em alta-definição, ficaria mais fácil enxergar o enorme símbolo de II (indicando que a tecla PAUSE estava ativada).

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Playlists Infinitas


O músico então percebeu que aquela playlist precisaria ser apagada. Não poderia continuar com aquela dor. As músicas, que antes haviam lhe dado tanta alegria, agora pareciam facas cumprindo sua função. Cortar.
Sentiu que ao apagar aquela lista, poderia sumir com a sensação também. Mal sabia ele que não era tão fácil como parecia.
As músicas cumpriam literalmente seu dever. Cada acorde, cada nota, e cada palavra (para aquelas que possuiam essa opção).
Mas o músico, não no sentido literal, e sim como "àquele que gosta de música", ao ver a tal lista, sentia-se vazío.
A dor era a eterna sensação. A dor de ser obrigado a apagar uma memória. A música deveria ser re-significada. O abraço de um vampiro e o sorriso de um amigo e mais nada.
Esperava o momento de ver o brilho. Esperava o brilho. E olhava para o céu. Sentia o coração pulsando em conjunto com os acordes daquela lista.
O poeta artista músico tentava olhar para aquela partitura. Tentava desvendar aqueles símbolos diferentes que sustentavam a alma, e o coração. O Coração imaginário de uma noite fria de outono.
O problema é que acordava sempre com o coração quebrado. Um ensinamento judáico diz que o mundo fora feito de partes, e os seres humanos seriam os responsáveis para integrar essas partes. O músico almejava encontrar a parte daquilo que não tinha. Não saberia quando, nem onde e muito menos como encontraria, mas tinha fé. Lutava com a fé, que poderia mover montanhas. Mas sabia, que poderia usar apenas seus versos. Seus versos simples. Nada de riquezas nem flores. Apenas seus versos.
Então, ao esperar a essência da música. Sentiu a catarse. E cumpriu com o seu dever. Com apenas um botão, realizou sua função. E deletou. Apagou.
O estranho, é que não ouviria mais aquelas músicas, mas os sentimentos não haviam mudado. Eles ainda estavam com ele, assim como aquelas listas. Aquelas eternas listas, aquelas eternas músicas, acordes, melodias. Aquelas infinitas lembranças... lembranças...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Artista Apaixonado


Ao som de um piano. Simplesmente ao som de um piano é que a catarse acontece.
O piano é som que a alma precisa. É a ilusão que o coração procura.
É a desilusão que a mente obedece.
O Artista se perdeu. Lá no fundo, em sua mente, o piano seria o símbolo eterno de sua condição. Mas nenhuma condição poderia ser eterna.
O Artista queria enxergar. Mas apenas via o mundo. Via a simplicidade, quando queria enxergar a complexidade.
Apenas a complexidade do sentimento expresso pelo piano. E pelo pianista. E pelo sentimento, e pela sensação. E por que não, a intuição e o pensamento também?
A música que o pianista tocou, tocou a alma do artista. E a arte do artista, foi o centro da ação do pianista.
São as contradições que culpariam a rotina do ser. Mais ainda, as existências do homem.
O Artista, o pianista, o piano, e a dor se misturaram naquela melodia. Naquela Ode, naquela sentença, naquela emoção.
O Artista olhava para mundo, e o mundo aparecia como uma tela em branco. Então o Artista pensava em Locke, e começava a escrever sua história naquela folha em branco. Até perceber que ela continuaria em branco.
Enquanto isso, o pianista tocava a alma dela com aquelas notas, com aquele sentimento de plenitude/felicidade/compaixão. E o artista, que era o pianista, sentia a dor.
O Poeta Pena quando cai o pano e o pano cai dizia o Teatro. O pano cai e mostra a intensidade do sentimento, assim como a máscara do artista. O poeta então, pensava que era um tanto bem maior.
Mas o ser humano é maior do que suas partes. E ele sabia que era um ser maior. Apenas para ela que não. Ela continuava nunca pensando nele. Pelo menos era o que aparentava.
E entre artes, pianos, artistas e pianistas, o Palhaço Pena percebeu que a poesia era metamorfoseada em cifrão. E todas as suas obras, estavam em leilão.
Olhou para o lado, e pensou apenas naquele poente, que mais parecia nascente. Olhou para o céu, que mais parecia mar. Enxergou a poesia na música como a música no arco-íris. E a catarse surgiu. A Explosão surgiu com a intensidade de um vulcão. E o poeta/artista/pianista se enxergou como o único responsável por sua condição. Sua dura, estagnada e dolorida condição humana.

domingo, 5 de abril de 2009

Crepúsculo (dos Deuses?!?!)


Existem momentos em que a razão se perde. E a interrogação surge.
Existem momentos em que a vida se transforma. E a sensação se renova.
O Pôr do Sol e o Nascer do Sol são iguais. Nas duas situações, o céu, azul (claro ou escuro) se transforma em um alaranjado raivoso. Forte. Contrastante. É nesse momento que a calmaria se despede. Apenas nesse momento.
Nesse momento a calmaria dá espaço para a destreza, para a força, para a mudança.
O Crepúsculo surge como o divisor de águas no céu. Melhor seria, o divisor de núvens. Surge no momento exato onde o sol desperta, ou adormece.
E a vida se renova. A vida se transforma. A vida ou acorda, ou adormece. A vida se encontra. É nesse acontecimento, que a aurora se expande no céu. E a angústia se apresenta. E a dor se nomeia. E as coisas se concretizam. É na aurora que o pensamento pensa, e que a ação age.
O Crepúsculo é um presente dos deuses. É o Sunset Boulevard dos esperançosos e calmaria dos ansiosos. Mas é também a descoberta do segredo. Do escondido, do desconhecido. E é no Crepúsculo, que a dualidade é deparada.
A dicotomia é exemplificada. E o amor é introjetado.
Os olhos buscam o crepúsculo porque a visão é mágica. É um caos organizado. É o Caos transformado em Cosmos. O Crepúsculo é a sintonia com o interior. E a resposta para as questões angustiantes da vida.
A vida que segue seu rumo, que busca seu equilíbrio constante. E que se perde ao encontrar. A vida, esta tão falada vida, que apresenta a angústia, a dor, a alegria, o reconhecimento, tudo em conjunto, tudo ao mesmo tempo, e que obriga os olhos a desprenderem uma lágrima.
Ela continuou não pensando no poeta. E ele continuou se perdendo em seus Crepúsculos.
A vida não lhe apresentou a surpresa que tanto almejava. Apenas a mediocridade das cabeças ao redor. Em sua busca pelas surpresas que tanto almejava, decepcionou-se com a falta nos outros. E com a falta dela. E ainda que forte, ainda que difícil, ainda que estranho, tentou focar-se em algo que pudesse revolver sua alma. E encontrar a música certa para o momento do Crepúsculo. O difícil seria pensar no que fazer depois. Se iria acordar junto da força do sol; ou se iria dormir junto da melancolia da lua.

sábado, 4 de abril de 2009

Braços Abertos



Ele me recebeu de braços abertos. E ainda colocou um belo arco-íris na entrada da cidade.

O Rio de Janeiro é a Cidade Maravilhosa. Possui um coração em forma de lagoa e esconde segredos muito bem guardados.

Fui ao Rio. Meus presentes de aniversário foram passeios pela cidade. Desde o Corcovado, o Bondinho, a calçada famosa de Copacabana, até Ipanema.

Andei pela Praia de Ipanema da forma mais clichê possível: Ao som de "Garota de Ipanema" (Versão Tom Jobim e Frank Sinatra); coloquei meus pés na calçada famosa de Copacabana - Princesinha do Mar e deixei-me levar pelas ondas.

Fui ao Cristo. E recebi seu abraço. Senti a emoção percorrer fundo pela coluna e eriçar os pêlos. Foi algo maior do que a religião. Foi algo novo. Fazer parte de um patrimônio da humanidade. Andei nos dois (sim 2) bondinhos do Morro da Urca e Pão de Açucar (lugar de gente infeliz, feliz, triste, alegre...) e percebi como somos pequenos na imensidão da terra.

Subi em mirantes, e quanto mais subia, minha pequena peregrinação tomava forma. Questionamentos sempre surgiam, e mudanças dos meus valores aconteceram.

O dia seguinte foi em Petrópolis. Cidade Imperial, sede do Museu Imperial. Da Coroa do Brasil.

A Coroa do meu povo. Daqueles que juntos de mim, tentam batalhar por um país justo e democrático. A Coroa não é minha. Não foi de D.Pedro I e nem de D.Pedro II. A Coroa do Brasil é do Brasil. É de todos nós. É o símbolo máximo de que podemos nos elevar. A Coroa do Império obrigou-me a me ver como habitante ativo de meu país. E me emocionou.

Mais a frente, deparei-me com uma carta. No quarto de Princesa Isabel (ainda dentro do Museu). Ao lê-la, percebi que estava de frente à Lei Áurea. Outro ponto essencial no dia de hoje. Com aquele documento, de uma folha, extinguia-se um modelo de convivência há muito solicitado. Com algumas simples palavras, expressava-se o desejo de sermos todos iguais. Foi o começo, de uma luta que vem até hoje. E me emocionei.

Atrás de nosso Hotel, estava o Palácio do Catete, e consequentemente, o Museu da República. Fui da República ao Império (e não ao contrário) em menos de um dia. Entendi que a história é mais viva, pulsante, do que imaginava, e que ela se encontra nos pequenos detalhes. O traje Majestístico era verde e amarelo; assim como sua coroa. A Coroa que simbolizava a NOSSA ânsia pelo descobrimento, pelo desenvolvimento, e pela paz. E me emocionei.

O garoto encontrou o maestro na praia e juntos foram ao Largo. Lá, avistaram o Poeta, que escrevia em seu livro "Olhos de Ressaca" enquanto olhava para o mar à sua frente. E se emocionou.

A emoção foi o ápice desta visita. Em todos os momentos, emociononei-me ao me ver subindo e ampliando minha consciência. O Frio na barriga foi intenso ao adentrar pelas portas da Catedral e ver que o Imperador deitava-se alí em minha frente. Separado apenas por uma grade, estavam eu, um brasileiro que não desiste nunca, de um outro brasileiro, que ajudou a sustentar a tradição deste solo que piso.

O Rio de Janeiro serviu de palco para descobertas. Para aprendizados e acima de tudo para reflexões. Reflexões que pediram a junção da mente, do corpo e do coração.

E o aniversário tornou-se apenas o pretexto para que tal fusão pudesse ocorrer...

terça-feira, 31 de março de 2009

Sonho de uma música


O sonhador descobrira da pior maneira.
Ao acordar, acreditava que o sonho continuava. Quanto vale um sonho? Perguntava-se à todo instante. O que o sonho representa?
Sabia que suas perguntas poderiam ser facilmente entendidas. Abriria um livro de Jung ou Freud, em conjunto com o Dicionário de Símbolos e alí, prontinha, sairia sua resposta.
Mas não era isso que queria. Que desejava.
O sonhador, assim como o Trovador, conhecia a dor. Ele pelo som. O outro pelo trovão.
O som da dor era espetacular. Causava a ânsia de lutar. Lutar contra ela. Contra a dor que incomodava. Era um zunido ligeiro, que trazia a lembrança antiga que mais atormentava o Sonhador.
Diferente do Trovador. Que construia sua dor baseado na força do trovão. O Sonhador não tinha força. Acreditava que sua condição seria explicada por ela mesma. Acreditava que o sonho parecia mentira.
Diziam que o sonho era a realização de um desejo. Não para o sonhador. Não para o senhor dos sonhos. Dos seus sonhos.
Até onde poderia ir o sonho? E até onde iria a realidade? Perguntas essas que não saberia responder. Pensava... E o único momento que conseguia integrar sonho e realidade, era na música. Aquela música, aquele som. O Som do sonhador. Da dor. E da tristeza. Da melancolia. E da alma.
E a música bastou. E ele se viu num enorme balão voando sobre seus sonhos. Ouvindo a música de sua dor.

domingo, 29 de março de 2009

Amor e Pétalas


O poeta estava apaixonado. Mas ela nunca pensava nele. Nunca. Ligou o som de sua casa, e por incrível coincidência, uma música chamada "Never think" tocava no rádio. Nessas horas sempre aconteciam coincidências.
Mas o poeta estava apaixonado. E não sabia o que fazer com tal sentimento. Percebia a vida em extremos. Ou tudo muito colorido, mágico, ou tudo muito monocromático, escuro, real. Mesmo assim, tudo isso era onírico. O Estar apaixonado, o sentir-se apaixonado, fazia o poeta viver.
O Poeta não sabia como transcorrer com essa história. Ele estava apaixonado, e ela não não pensava nele. Ou pensava, como havia visto por uma mensagem recebida num dia qualquer. Numa hora qualquer.
E aquele momento qualquer passou a ter um grande significado para o Poeta. Por um segundo, ou menos, ela havia pensado nele. Não da maneira que ele gostaria, mas havia pensado. Já era um começo...
O coração pulsava forte; como se estivesse descontrolado. Suas pernas estavam fracas. Como se estivessem descontroladas. O Poeta então percebeu que ele estava descontrolado. Mas logo, muito logo, deveria retomar o controle.
Parou. Sentou. Abriu o peito. Como se estivesse abrindo a maior caixa-forte que possuia. E retirou dalí as diversas pétalas que ocupavam o coração. Que preenchiam seu Órgão vital. Ficou olhando por um tempo, raciocinando e racionalizando o motivo de elas ainda estarem alí.
Ela não merecia aquelas pétalas. Se nem pensava no poeta, como poderia ser a dona daquelas pétalas? Ele precisava encontrar a dona. Se ele não a encontrasse, aquelas pétalas morreriam. E isso não poderia acontecer. Era o volume de seu coração que estava em jogo.
O poeta sentia-se perdido. Não sabia o caminho que deveria começar sua busca. Mas sabia que era hora. Havia chegado o momento e ele não poderia correr.
Ela nunca pensou nele. Não do jeito que ele gostaria que ela pensasse. Não da maneira que poderia receber seu coração.

sexta-feira, 27 de março de 2009

O Labirinto do rapaz

Hoje o dia estava escuro. Nublado, eu diria. Assim como alguns dias atrás. Os dias na verdade aparecem mais tranquilos. Menos agitados. Mais calmos... É assim que surgem.

O dia e a noite estavam mais frios. Daquele frio com neblina. Daquele frio que pede um cobertor.

Hoje o rapaz não viu a lua. Não deu pra procurá-la, pois estava perdido em seus próprios pensamentos. Hoje ele não conseguiu enxergar as estrelas, e nem participar da apoteóse do Universo.

Hoje o rapaz estava apenas consigo mesmo. Hoje o rapaz estava mais introspectivo do que ontem, quando o sol quente, surgia no céu. Hoje o rapaz não se perdeu em seus pensamentos. Hoje o rapaz percebeu que o amanhecer e o anoitecer são muito mais parecidos do que imaginava. E que vive entre um e outro.

Hoje o rapaz se deparou com o Minotauro. E assim como a esfinge, só o deixaria ir se respondesse algumas perguntas. Hoje o rapaz respondeu as perguntas que achava corretas, e não se preocupou com aquelas que de nada serviriam em sua vida.

Hoje o rapaz viu o labirinto. Hoje o rapaz sentiu as curvas perigosas daquele local. Hoje ele se deparou com a sua solidão.

Hoje, e apenas hoje o o trovador, o poeta, o herói, o garoto e rapaz se depararam com o mesmo labirinto. Com as mesmas curvas. Com os mesmos obstáculos.

Com a mesma solidão. E apenas por hoje, decidiram se unir para batalhar contra ela. Isso tudo foi hoje. Hoje o rapaz não viu a lua. Mas também não viu o sol.

Hoje, apenas hoje o trovador, o poeta, o herói, o garoto e o rapaz se depararam com o mesmo labirinto. E perceberam que possuiam as mesmas respostas das diferentes perguntas que procuravam.

quarta-feira, 25 de março de 2009

VagaLumes



Ele olhou pro céu. E não entendeu absolutamente nada. Como aquelas estrelas não poderiam estar mais ali? Se estavam! Não estava ficando louco, ou pelo menos achava isso.

Tentava compreender aquele fenômeno, mas não conseguia. Queria racionalizar aquele momento, mas a poesia era tamanha, que não foi possível.

O menino então sentou no chão, e olhou o horizonte. Via pequenos brilhos, faixos de luz lá na escuridão do céu. Lembrou-se imediatamente dos Vagalumes. Seres que piscavam.

As estrelas eram os vagalumes do mundo superior. As estrelas eram a prova que existia vida no céu. E que o Universo sim, poderia ser infinito. O menino acredita que o Universo poderia ser o local comum à todos. E a tudo.

A vida do menino era grande. Tão grande quanto a imensidão do Universo. Tão grande quanto o brilho daquelas estrelas.

O menino não fez mais nada. Ficou em seu lugar e apenas observou. E nesse movimento, lá longe novamente, viu uma estrela cadente. E com isso, o céu derramou uma lágrima. Aquele menino nunca mais foi o mesmo. Presenciou o choro do céu. Presenciou a catarse do universo.

O céu chorou. E naquele momento, o menino descobriu o seu universo interior, particular, e acompanhou-o nesse movimento. O Universo, lá longe, no alto, no céu e o menino tão pequeno, tão lá longe, na terra. Os dois juntos, em uma grande serenata.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O Herói da História


E o herói matou o dragão.
O Protagonista era um homem forte. E sabia que aquele não seria o único dragão que deveria enfrentar.
Sentiu o peso da lança em suas mãos. E a leveza do espírito em sua mente.
O Herói, o protagonista, o personagem principal de sua história, queria mesmo que a vida o surpreendesse. E que tudo aquilo que certa vez o deixou enfraquecido, fosse embora.
O Herói era a pessoa mais forte que conhecia. Vencia dragões, bestas e monstros com os olhos fechados. Era corajoso, forte, destemido. Seu escudo o protegia de todo o mal. Mas também não o deixava ver as maravilhas de sua vida.

O Herói se escondia debaixo de sua própria armadura. Sua lança enorme afastava tudo e todos, e seu escudo blindava sua visão.
E o Herói prosseguia seu caminhar. Seu caminhar errante.
Descobria vilas, salvava vidas. E conhecia pessoas.
Pessoas que passavam. O Herói sentia-se sozinho. E a solidão apenas aumentava quando percebia que o rumo de sua vida o levava para a solidão. Não acreditava em destino, ou melhor, acreditava que era dono do próprio destino, e como tal, conseguiria ele mesmo mudar o rumo de sua vida.
Acreditava porém, no amor. E na paixão. E em seus sonhos, a solidão tenderia a passar.
O Herói prosseguia sua vida entre batalhas contra monstros externos e assombrações internas.
A facilidade com que exterminava um dragão era elogiada pela população dos vilarejos que passava. Porém, apenas ele conseguia entender o tamanho da batalha que realizava todos os dias em seu coração.
O Herói sabia que ele era o protagonista de sua história. Sabia que apenas ele seria responsável por seu caminhar. E sabia também que em algum momento, em alguma hora, deveria soltar o escudo e fincar a lança.
E libertar-se de sua armadura, e apegar-se à si-próprio. E sentir o real sentimento que brotava de seu coração. O Herói percebeu que gostaria de salvar a mocinha quando matasse o proxímo dragão. O problema, é que ele não sabia se haveriam mais dragões para matar...

sábado, 21 de março de 2009

Eclipse


Reza a Lenda que em um vilarejo indígena, há muitos e muitos anos atrás, existiu um casal de jovens que estavam prometidos para passarem suas vidas inteiras juntas. Ela, filha do cacique da aldeia, e ele, o guerreiro mais respeitado da tribo.

Os dois descobriram o amor. E perceberam que não haveria problema nenhum em estarem prometidos um para o outro.

Encontravam-se todos os dias, em horários determinados e passavam as horas mais alegres juntos. Ele saia para caçar, ela cuidava de outras mulheres, as anciãs da aldeia.

Mas em todas as Lendas, em todas as histórias, existe a força contrária à dos protagonistas. E nesta lenda não seria diferente. Era personificada pela feiticeira da tribo, e uma das mulheres mais respeitadas de toda a redondeza. Guardava um amor secreto e doentio pelo guerreiro, porém, sabia que não poderia nunca expressar-se para ele. Deizer-lhe o que realmente sentia. Os deuses não haviam preparado aquele destino para ela.

Via todos os dias os dois se apaixonarem cada vez mais. E aquele sentimento de não-pertença tornava-se cada vez maior. Se o Guerreiro não fosse dela, não poderia ser de mais ninguém.

Chamou todos os sacertodes, realizou todos os feitiços possíveis, com a intenção de separar aquele amor. Aquele sentimento responsável por suas lágrimas. E pediu. Em suas preces, pediu a separação, o coração partido daqueles amantes. A angústia e a dor. E conseguiu.

Na manhã seguinte, um astro, um círculo flamejante surgia no céu. Com seus raios fortes, investia força nos seres vivos, que começavam um novo dia de vida. E assim ficou. Cada momento que passava, percebia-se que o Sol, nome dado àquele objeto, chegava mais perto da montanha no horizonte. E ele era responsável em levar com ele a claridade e trazer a escuridão. Até que ele se apagou totalmente no céu.

A população indígena sentia-se surpresa. Um outro objeto surgia no céu. Uma esfera clara, que parecia chorar lá no alto, apresentava-se pela primeira vez naquela escuridão. Suas lágrimas brilhavam junto dela, em forma de pequenas estrelas. Novamente a tribo nomeu tal objeto, dessa vez com o termo Lua. E assim, igual ao Sol, cada momento que passava, a Lua chegava mais perto da montanha.

Os outros indígenas então, perplexos com tamanha novidade, deram conta que faltava o casal mais apaixonado que aquela tribo já conhecera. E foram à procura. Nada. A busca durou vários dias e várias noites. Eram abençoados pelo Sol e pela Lua.

A Feiticeira sabia o que havia acontecido. E sentia-se feliz por sua ação. Os dois nunca mais iriam passar um momento juntos. Enquanto ele estivesse no céu, ela não poderia estar. E ao adormcer, era o momento dela brilhar.

O Cacique, usando sua experiência adquirida com os anos, e entristecido com sumiço de sua filha, ao olhar para céu, pediu ao deuses que trouxessem o casal de volta. Nesse momento, uma lágrima da Lua caiu ao seu lado, e ele teve certeza do que havia acontecido.

Os deuses então, apresentaram uma solução. Aquele encantamento fora feito de tal maneira, que a única pessoa capaz de quebrá-lo seria a feiticeira. Porém, eles criaram um fenômeno, um acontecimento que duraria alguns minutos e que aconteceria de tempos em tempos. Deram o nome de Eclipse, a junção do Sol com a Lua.

Nesse momento, os dois poderiam se ver novamente. Poderiam sentir-se juntos, como um ser só novamente.

E o eclipse tornou-se o momento de expressão daquele amor. Daquele sentimento repreendido pela inveja e pelo individualismo.

Até hoje, olho para o céu com a esperança do Eclipse. Com a expectativa de que os dois amantes poderão se reencontrar e que o tempo irá parar apenas por alguns minutos para contemplar seu amor.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A Flauta e o Sonho

O poeta sonhou com a flauta.
A tristeza parecia poesia. E tentava, todos os dias, descobrir o sentido das coisas...
Mas era querer saber demais.
O Teatro disse tais palavras. E o Poeta continuou.

Era uma vez a história de um poeta. Desbravador do mundo das idéias. A pedra de giz desenhava seu caminho. E ele via o pássaro, que lá longe, parecia um passarinho. Olhava para baixo e via uma borboleta que mais parecia uma flor. Pensou por um instante que o céu era feito de algodão, e que o sonho parecia verdade. Até que acordou.

O Poeta olhava para o mundo que não era dele. E pensava que o mundo era perfeito. Simples da maneira que imaginava.

Olhava pela janela de seu quarto, e via dias que pareciam noites. Pessoas que pareciam feias, mas que possuiam os corações mais bonitos. Olhava para a janela de seu quarto. E só pensava que os sonhos pareciam verdade.
O Poeta então perdia-se em seus pensamentos. Em seu mundo das idéias.
Acreditava que o sonho era verdade, esquecia de acordar... E acordado, continuava sonhando.
Sonhava com a flauta. E para ele, simbolizava a busca de sua essência. De sua totalidade.
O sonho era constante. A flauta era constante. Mas o poeta era inconstante. Possui a loucura e a lucidez. Possuia os conjuntos de contradições. Os kits de sobrevivência humana. Possuia o dom de sentir.
A flauta. O Poeta. O Sonho.
Através da espiral, o poeta ia se desenvolvendo. Ia aprendendo sobre a vida, sobre os sentimentos. Queria descobrir os verdadeiros sentidos das coisas. Mas algo dizia que era querer saber demais. Querer saber demais!
O Poeta juntava palavras e as transformava em pensamentos. Utilizava-se de sua intuição para criar o sentimento. Sempre de maneira introvertida. Sempre. E o mundo era perfeito. Em seus sonhos, que só terminavam quando acordava, o mundo era perfeito.
E o caminho do Poeta proseguia. Os pensamentos cada vez mais levavam-no para longe da janela de seu quarto. E o passarinho aprendia a bater as asas. E percebia que as flores pareciam conosco, pois éramos sementes do que estava por vir.
A flauta era o símbolo da musicalidade perdida da vida. O sonho era o desejo de voltar a encontrá-la. E o Poeta, era o meio termo. A flauta era o impulso. E o sonho, o objeto desse impulso.

O poeta percebeu o mundo e se percebeu. Aprendeu a lidar com a vida e descobriu que o mundo não era perfeito. Tudo isso da janela de seu quarto.

Texto Baseado na Música: Sonho de uma Flauta (O Teatro Mágico)

quarta-feira, 18 de março de 2009

O Trovador... (Ou o Re-início)



O Trovador escreve e canta o sentimento da humanidade. Em suas palavras canta tristeza, alegria, raiva e melancolia. Em seus versos, apresenta as imperfeições do ser. E em seu pensamento, acredita na vida.

A Vida é a essência daquilo que temos. A Vida é a unidade indivisível da existência. A Vida é a matéria-prima bruta do trovador.

Com a força de um trovão, o poeta entende a dor. Poeta que sente de longe o próprio sentimento como um trovão. Que elabora a dor. Que se transforma em humano.

O Palhaço se esconde atrás da máscara e o Trovador, atrás da Poesia. Faz dos versos seu castelo e do sentimento, idealiza seu amor. "O poeta é um fingidor" já dizia o mestre. O poeta é um trovador, digo eu. Fica cara a cara com a dor e finge dominá-la. Mas não consegue; e finge tão bem, que volta a sentir aquilo que nunca parou de sentir.

A vida virá nos olhos daquele que sente a lágrima da alegria da vida. E o Trovador diz, com os olhos marejados: "Quero-te como um cavaleiro que sobe montanhas, batalha contra dragões para poder te encontrar. Quero-te como a última lágrima de meu olhar. Quero-te pois meu coração não precisa mais procurar. Quero-te tanto, e tanto, e tanto, que o desejo de querer-te é o que faz minha alma chorar. Quero parar de buscar aquilo que já encontrei."

E com estas palavras, a vida se renova, e este novo Balaio prepara-se para abrigar novas idéias. E a vida prossegue...