terça-feira, 28 de julho de 2009

As reticências valem mais do que um ponto

Outro dia o rapaz com ares de poeta quis representar seu pensamento em palavras escritas numa noite fria de inverno.

Começou se enrolando em uma colcha de retalhos antiga, tradição de família, herança de sua bisavó. Sentou-se em frente ao computador e iniciou um texto sobre O Teatro Mágico. Mas lá pela segunda linha, no primeiro ponto final, pensou melhor e apagou tudo.

Pensou então no que poderia ocupar sua mente ao invés da música do Teatro em forma de poesia.

Pensou, refletiu, ao som de "Segundo Ato", e decidiu que escreveria sobre as tantas, várias reticências que utiliza em sua vida.

As reticências não terminam uma frase. Elas deixam o pensamento em aberto. Os pontos finais finalizam (óbvio) um pensamento. Eles encerram a reflexão.

O rapaz continuou pensando e graças as reticências, foi para mais longe... Subiu naquele balão, e avistou o horizonte do universo. Não conseguia acreditar que tudo aquilo caberia em uma casca de noz. Atravessou o Universo, conforme Os Besouros, sem saber o caminho que tomava. Apenas sabia que deveria encontrar suas reticências...

Olhou para baixo. Tantas pessoas, tantos sentimentos, aquela infinidade de sensações o deixava orgulhoso de pertencer a raça humana.
Ao retornar; ao colocar os pés no chão novamente, percebeu que o final seria o começo daquilo que já havia começado. Que sua história estava em andamento, e que ainda faltariam muitas páginas, muitos capítulos.

E o mundo é perfeito dizia o iTunes. Não teria como discordar dele. Não agora. Que conhecia o ponto final de forma tão complexa.
Deu um tempo ao texto e foi fazer um chá quente com biscoitos... Numa madrugada fria, olhando para o celular, seria mais fácil lidar com a mensagem. Com o cotidiano apresentado aos olhos do poeta.

E lembrou, como ouvia, que deveria continuar se lembrando de celebrar muito mais. E que a sina nossa não existia. Apenas a sina de cada um. "E o que fazer com ela?" perguntou o rapaz/poeta? Um leve, profundo, claro e escuro silêncio tomou conta de sua consciência.

O rapaz lembrou de um filme, e a frase surgiu marcante em sua mente: "SOMOS MENOS MISTERIOSOS DO QUE ACHAMOS SER".

O ponto final é a assinatura num quadro de um artista. É a moldura numa fotografia. É o crédito final num filme. Já as reticências são o processo de pintura. O enfoque da lente. A filmagem de uma cena.

Novamente olhou para o céu, e percebeu que as reticências do universo encontravam-se dentro dele...

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