terça-feira, 27 de setembro de 2011

Entre sonhos

Ao assistir "Chicago" percebemos que é um filme a mais. Não é apenas um musical, não é apenas um filme de tribunal.

Chicago é uma mistura. E desde os primeiros minutos, até os créditos finais, percebe-se que há diversas histórias que se entrelaçam, criando uma teia com base musical.

Chicago é uma experiência que nos faz olharmos para nós mesmos, porque são os nossos sonhos...

São os nossos sonhos que ficariam presos em uma cela.

Até onde iria a ambição? Até onde iria a vontade? O querer?

Um sonho que perdura. Uma ambição que faz com que seja necessário subir nos outros para conquistar seus objetivos.

E uma reflexão com um som musical.

Crimes que são compreendidos com a naturalidade do destino. E a música começa.

Um estalar de dedos que transforma. A realidade naquele pensamento. E a vida, tão branca e preta, se torna colorida. Com contas e luzes.

E a realidade, tão silenciosa, transforma-se em um circo.

Chicago é o retrato da nossa sociedade. Da nossa vida. E o que seria dela, se não tivéssemos momentos de calmaria?

Porque a música, em Chicago, é a fuga de todas as personagens.  E o ato de cantar, é o pedido de socorro. Cantar para não chorar. Cantar para espantar todo o mal.

Cantam para seguir com a realidade. Com aquela realidade que as levou a um caminho angustiante, fechado, como as celas de uma prisão.

O tango começa. As celas se abrem. E cada uma vai cantando seu passado. Percebem que a vida apenas segue para frente, apesar de haver retornos em pontos específicos.

A única "not guilty" faz seu número de desaparecimento. E surge enforcada na frente de todos.  Tudo porque não pôde ser defendida.

Enquanto continuavam a cantar, suas vidas deixavam de ser menos angustiantes. E encontravam um pequeno momento de calmaria.

O Grande Final surgiria como a junção do sonho e da realidade. E nas palavras do poeta "Sonho parece verdade, quando a gente esquece de acordar", naquela Chicago, aquelas pessoas só acordariam, caso conseguissem alcançar seus ideais, suas ambições.

Tudo naquela nebulosa e chuvosa Chicago.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quando pensamos sobre o piscar dos olhos

O rapaz sabia que teria que piscar mais cedo ou mais tarde. E teria também que enfrentar tudo aquilo que significava o simples ato de piscar os olhos.

Porque os nossos monstros, podem estar escondidos naquele espaço entre o fechar e o abrir dos olhos.

E quando pensava naqueles monstros, ele sabia que era algo maior.

Porque a vida significava sempre, o abrir e fechar de novas experiências, de novas possibilidades. De novas etapas.

Mas sempre se perguntava, para onde iriam as coisas se caso sumissem neste momento de não-ser?

Porque somos. Vivemos. Amamos. Odiamos. Pensamos. Erramos. Acertamos. Enfim, somos. E quando não somos? E quando mergulhamos de cabeça na escuridão de nós mesmos?

O rapaz sabia que aquelas questões iriam afeta-lo intimamente. Porque todo ser humano, por ser humano, é afetado.

Aquele rapaz pensava no que simbolizava o piscar de olhos. Compreendia a complexidade daquele simples ato. Daquela simples ação.

O que perderia da vida nos momentos em que piscasse os olhos? Sabia que não podia se render a escuridão daquele momento.

Porque o piscar de olhos, apresentava para aquele jovem rapaz o real momento de calmaria. Mas uma calmaria vazia. Um vazio da vida. Era um momento de não-vida. O que já havia perdido? Quais as possibilidades que a vida havia lhe apresentado, e ele, por estar na escuridão plena, não conseguira perceber?

Cada momento que psicava, entrava num modo de "a-vida".

Sartre, aquele existencialista, disse em um de seus livros, que o inferno seriam os outros. Pois nenhum ser humano conseguiria viver sozinho. E cada ser humano, por ser diferente e único, entraria em conflito entre si.

Como compreender aquilo que desconhecemos? Pensava o rapaz, que já mergulhava no infinito escuro de seu ser. Percebia que deveria primeiro conhecer a escuridão, para só depois se render ao clarão.

Porque a luz só é importante para aqueles que vivenciaram a escuridão.

E pensou naquela imagem arquetípica de anjos e demônios. Porque sabia que haviam anjos embaixo e demônios dentro daquele momento escuro.

Porque aquele momento escuro, estava dentro de si-próprio. O claro e o escuro estavam dentro dele. E de nada adiantaria compreender apenas um ponto da caminhada, se o trajeto era composto por escadas.

Escadas são feitas para subir E descer. Seu sonho era encontrar-se com aquele anjo que lhe auxiliaria na sua busca da luz. Na sua ação de abir os olhos.

Mas sabia, que para abrir os olhos, deveria primeiro fecha-los.

Respirou fundo, empunhou seus ideais (um Cavaleiro contemporâneo se utiliza de ideias e ideais, não de espadas e escudos) e partiu para sua batalha. Não podia responsabilizar ninguém por isso. A batalha só terminaria porque encontraria o seu dragão. E sabia com toda a certeza, que ao encontra-lo, ele poderia sim, ser apenas um moinho de vento.

O Cavaleiro Errante seguiu viagem. E deparou-se com belezas imensuráveis. Tais belezas lhe mostravam que a vida podia ser bela. Clara. Cheia de luz.

O Cavaleiro Errante seguiu viagem. E deparou-se com tristezas imensuráveis. Tais tristezas lhe mostravam que a vida podia ser triste. Escura. Cheia de escuridão.

Mas o importante era a descoberta da dicotomia. Soube que não havia luz, sem escuridão. Que não havia mente sem corpo. Que não existiam anjos, sem os demônios. E que o ato de piscar os olhos, unia seu verdadeiro interior (aquele self que tentamos a vida toda esconder) com o universo.

Porque o Universo não estava apenas um uma casca de noz. Ele estava, acima de tudo, dentro de si-próprio.

E se não abrisse os olhos logo após fecha-los, poderia ter a tentação de viver apenas pelo princípio do prazer.

O Universo era nada mais do que a sua essência. Aquela parte imutável, mas adaptável de cada um. Com todas as dicotomias que se tem o direito de ter. E com todos os questionamentos que se deve ter.

Sabia que o Universo precisava ser desbravado. Tudo isso, naquele momento entre o fechar e o abrir das pálpebras.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Guerras

Sempre há guerras pelas quais nós devemos lutar.

Sempre.

E sempre.

Só há guerras, porque um dia, o ser humano conheceu a paz. E hoje, batalha para retornar ao estado pacífico.

Mas, novamente, só fazemos guerras, tempestades nos copos d`água da vida, quando percebemos que devemos lutar.

Somos mesquinhos, egoístas, pois para nós, precisamos arregaçar os braços quando um conhecido e/ou parente é atingido; caso contrário, não é conosco.

A miséria daquele que vemos todos os dias no centro da cidade, não é conosco. A situação complexa (e complicada) da África, sim, uma pena... e... hum... não é conosco também, afinal, vivo na América do Sul.

A guerra dos USA contra o terrorismo, e consequentemente contra o Afeganistão também não é problema  nosso, afinal, apenas os estadunidenses (porque somos todos americanos!) que foram para lá.

Mas existem guerras e existem guerras.
Todos os dias, somos chamados por nós mesmos a batalharmos em algumas guerras diárias. Aquelas que aparecem no nosso dia-a-dia, no nosso cotidiano. E que felizmente ou infelizmente, estão diretamente ligadas ao nosso processo de desenvolvimento.

E nesse contexto, de guerras, batalhas e desenvolvimento. Que o amor surge.
Uma história pode ser contada em uma carta. Em várias cartas, em um livro. Em uma filme, num e-mail. Enfim, pode-se expressar um sentimento de maneiras que o coração desconhece, mas e quando as nossas histórias não saem da forma como a planejamos?

E quando nossa vida, vai por caminhos tão estreitos que acabamos cedendo? O que aconteceria se um amor não resistisse ao tempo? A distância? A falta de contato?

Um amor pode durar apenas pelo diálogo? Pela conversa, mesmo que seja verdadeiramente apaixonada? Mesmo que haja a reciprocidade dos sentimentos e a real sensação de amor ao dizer aquela frase de três palavras tão mundialmente conhecida?

Em Portugal eles ficaram "Juntos ao Luar", no Brasil, tudo começou com "Querido John". Uma guerra que dá pano de fundo para os encontros e desencontros de corações.

Mas diferente daquelas guerras com bombas, armas de fogos e munições. Esta guerra possui apenas um campo de batalha. O próprio pensamento. A própria existência. Uma guerra que acontece na mente. Que obriga o coração a escolher um lado, dizendo que ele não PODE ser igual aos de todas as mães.

Aquela guerra, que no fundo, todos nós nos tornamos soldados, capitães, tenentes, generais. Porque só temos chances de vencer tal batalha, se guerrearmos olhando para o espelho. Para nós mesmos.

Para nós mesmos...

Sempre há guerras pelas quais nós devemos lutar.
E sempre haverão guerras que tentarão destruir nosso coração.