terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quando pensamos sobre o piscar dos olhos

O rapaz sabia que teria que piscar mais cedo ou mais tarde. E teria também que enfrentar tudo aquilo que significava o simples ato de piscar os olhos.

Porque os nossos monstros, podem estar escondidos naquele espaço entre o fechar e o abrir dos olhos.

E quando pensava naqueles monstros, ele sabia que era algo maior.

Porque a vida significava sempre, o abrir e fechar de novas experiências, de novas possibilidades. De novas etapas.

Mas sempre se perguntava, para onde iriam as coisas se caso sumissem neste momento de não-ser?

Porque somos. Vivemos. Amamos. Odiamos. Pensamos. Erramos. Acertamos. Enfim, somos. E quando não somos? E quando mergulhamos de cabeça na escuridão de nós mesmos?

O rapaz sabia que aquelas questões iriam afeta-lo intimamente. Porque todo ser humano, por ser humano, é afetado.

Aquele rapaz pensava no que simbolizava o piscar de olhos. Compreendia a complexidade daquele simples ato. Daquela simples ação.

O que perderia da vida nos momentos em que piscasse os olhos? Sabia que não podia se render a escuridão daquele momento.

Porque o piscar de olhos, apresentava para aquele jovem rapaz o real momento de calmaria. Mas uma calmaria vazia. Um vazio da vida. Era um momento de não-vida. O que já havia perdido? Quais as possibilidades que a vida havia lhe apresentado, e ele, por estar na escuridão plena, não conseguira perceber?

Cada momento que psicava, entrava num modo de "a-vida".

Sartre, aquele existencialista, disse em um de seus livros, que o inferno seriam os outros. Pois nenhum ser humano conseguiria viver sozinho. E cada ser humano, por ser diferente e único, entraria em conflito entre si.

Como compreender aquilo que desconhecemos? Pensava o rapaz, que já mergulhava no infinito escuro de seu ser. Percebia que deveria primeiro conhecer a escuridão, para só depois se render ao clarão.

Porque a luz só é importante para aqueles que vivenciaram a escuridão.

E pensou naquela imagem arquetípica de anjos e demônios. Porque sabia que haviam anjos embaixo e demônios dentro daquele momento escuro.

Porque aquele momento escuro, estava dentro de si-próprio. O claro e o escuro estavam dentro dele. E de nada adiantaria compreender apenas um ponto da caminhada, se o trajeto era composto por escadas.

Escadas são feitas para subir E descer. Seu sonho era encontrar-se com aquele anjo que lhe auxiliaria na sua busca da luz. Na sua ação de abir os olhos.

Mas sabia, que para abrir os olhos, deveria primeiro fecha-los.

Respirou fundo, empunhou seus ideais (um Cavaleiro contemporâneo se utiliza de ideias e ideais, não de espadas e escudos) e partiu para sua batalha. Não podia responsabilizar ninguém por isso. A batalha só terminaria porque encontraria o seu dragão. E sabia com toda a certeza, que ao encontra-lo, ele poderia sim, ser apenas um moinho de vento.

O Cavaleiro Errante seguiu viagem. E deparou-se com belezas imensuráveis. Tais belezas lhe mostravam que a vida podia ser bela. Clara. Cheia de luz.

O Cavaleiro Errante seguiu viagem. E deparou-se com tristezas imensuráveis. Tais tristezas lhe mostravam que a vida podia ser triste. Escura. Cheia de escuridão.

Mas o importante era a descoberta da dicotomia. Soube que não havia luz, sem escuridão. Que não havia mente sem corpo. Que não existiam anjos, sem os demônios. E que o ato de piscar os olhos, unia seu verdadeiro interior (aquele self que tentamos a vida toda esconder) com o universo.

Porque o Universo não estava apenas um uma casca de noz. Ele estava, acima de tudo, dentro de si-próprio.

E se não abrisse os olhos logo após fecha-los, poderia ter a tentação de viver apenas pelo princípio do prazer.

O Universo era nada mais do que a sua essência. Aquela parte imutável, mas adaptável de cada um. Com todas as dicotomias que se tem o direito de ter. E com todos os questionamentos que se deve ter.

Sabia que o Universo precisava ser desbravado. Tudo isso, naquele momento entre o fechar e o abrir das pálpebras.

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