Começou se enrolando em uma colcha de retalhos antiga, tradição de família, herança de sua bisavó. Sentou-se em frente ao computador e iniciou um texto sobre O Teatro Mágico. Mas lá pela segunda linha, no primeiro ponto final, pensou melhor e apagou tudo.
Pensou então no que poderia ocupar sua mente ao invés da música do Teatro em forma de poesia.
Pensou, refletiu, ao som de "Segundo Ato", e decidiu que escreveria sobre as tantas, várias reticências que utiliza em sua vida.
As reticências não terminam uma frase. Elas deixam o pensamento em aberto. Os pontos finais finalizam (óbvio) um pensamento. Eles encerram a reflexão.
O rapaz continuou pensando e graças as reticências, foi para mais longe... Subiu naquele balão, e avistou o horizonte do universo. Não conseguia acreditar que tudo aquilo caberia em uma casca de noz. Atravessou o Universo, conforme Os Besouros, sem saber o caminho que tomava. Apenas sabia que deveria encontrar suas reticências...
Olhou para baixo. Tantas pessoas, tantos sentimentos, aquela infinidade de sensações o deixava orgulhoso de pertencer a raça humana.
Ao retornar; ao colocar os pés no chão novamente, percebeu que o final seria o começo daquilo que já havia começado. Que sua história estava em andamento, e que ainda faltariam muitas páginas, muitos capítulos.
E o mundo é perfeito dizia o iTunes. Não teria como discordar dele. Não agora. Que conhecia o ponto final de forma tão complexa.
Deu um tempo ao texto e foi fazer um chá quente com biscoitos... Numa madrugada fria, olhando para o celular, seria mais fácil lidar com a mensagem. Com o cotidiano apresentado aos olhos do poeta.
E lembrou, como ouvia, que deveria continuar se lembrando de celebrar muito mais. E que a sina nossa não existia. Apenas a sina de cada um. "E o que fazer com ela?" perguntou o rapaz/poeta? Um leve, profundo, claro e escuro silêncio tomou conta de sua consciência.
O rapaz lembrou de um filme, e a frase surgiu marcante em sua mente: "SOMOS MENOS MISTERIOSOS DO QUE ACHAMOS SER".
O ponto final é a assinatura num quadro de um artista. É a moldura numa fotografia. É o crédito final num filme. Já as reticências são o processo de pintura. O enfoque da lente. A filmagem de uma cena.
Novamente olhou para o céu, e percebeu que as reticências do universo encontravam-se dentro dele...