segunda-feira, 27 de abril de 2009

Playlists Infinitas


O músico então percebeu que aquela playlist precisaria ser apagada. Não poderia continuar com aquela dor. As músicas, que antes haviam lhe dado tanta alegria, agora pareciam facas cumprindo sua função. Cortar.
Sentiu que ao apagar aquela lista, poderia sumir com a sensação também. Mal sabia ele que não era tão fácil como parecia.
As músicas cumpriam literalmente seu dever. Cada acorde, cada nota, e cada palavra (para aquelas que possuiam essa opção).
Mas o músico, não no sentido literal, e sim como "àquele que gosta de música", ao ver a tal lista, sentia-se vazío.
A dor era a eterna sensação. A dor de ser obrigado a apagar uma memória. A música deveria ser re-significada. O abraço de um vampiro e o sorriso de um amigo e mais nada.
Esperava o momento de ver o brilho. Esperava o brilho. E olhava para o céu. Sentia o coração pulsando em conjunto com os acordes daquela lista.
O poeta artista músico tentava olhar para aquela partitura. Tentava desvendar aqueles símbolos diferentes que sustentavam a alma, e o coração. O Coração imaginário de uma noite fria de outono.
O problema é que acordava sempre com o coração quebrado. Um ensinamento judáico diz que o mundo fora feito de partes, e os seres humanos seriam os responsáveis para integrar essas partes. O músico almejava encontrar a parte daquilo que não tinha. Não saberia quando, nem onde e muito menos como encontraria, mas tinha fé. Lutava com a fé, que poderia mover montanhas. Mas sabia, que poderia usar apenas seus versos. Seus versos simples. Nada de riquezas nem flores. Apenas seus versos.
Então, ao esperar a essência da música. Sentiu a catarse. E cumpriu com o seu dever. Com apenas um botão, realizou sua função. E deletou. Apagou.
O estranho, é que não ouviria mais aquelas músicas, mas os sentimentos não haviam mudado. Eles ainda estavam com ele, assim como aquelas listas. Aquelas eternas listas, aquelas eternas músicas, acordes, melodias. Aquelas infinitas lembranças... lembranças...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Artista Apaixonado


Ao som de um piano. Simplesmente ao som de um piano é que a catarse acontece.
O piano é som que a alma precisa. É a ilusão que o coração procura.
É a desilusão que a mente obedece.
O Artista se perdeu. Lá no fundo, em sua mente, o piano seria o símbolo eterno de sua condição. Mas nenhuma condição poderia ser eterna.
O Artista queria enxergar. Mas apenas via o mundo. Via a simplicidade, quando queria enxergar a complexidade.
Apenas a complexidade do sentimento expresso pelo piano. E pelo pianista. E pelo sentimento, e pela sensação. E por que não, a intuição e o pensamento também?
A música que o pianista tocou, tocou a alma do artista. E a arte do artista, foi o centro da ação do pianista.
São as contradições que culpariam a rotina do ser. Mais ainda, as existências do homem.
O Artista, o pianista, o piano, e a dor se misturaram naquela melodia. Naquela Ode, naquela sentença, naquela emoção.
O Artista olhava para mundo, e o mundo aparecia como uma tela em branco. Então o Artista pensava em Locke, e começava a escrever sua história naquela folha em branco. Até perceber que ela continuaria em branco.
Enquanto isso, o pianista tocava a alma dela com aquelas notas, com aquele sentimento de plenitude/felicidade/compaixão. E o artista, que era o pianista, sentia a dor.
O Poeta Pena quando cai o pano e o pano cai dizia o Teatro. O pano cai e mostra a intensidade do sentimento, assim como a máscara do artista. O poeta então, pensava que era um tanto bem maior.
Mas o ser humano é maior do que suas partes. E ele sabia que era um ser maior. Apenas para ela que não. Ela continuava nunca pensando nele. Pelo menos era o que aparentava.
E entre artes, pianos, artistas e pianistas, o Palhaço Pena percebeu que a poesia era metamorfoseada em cifrão. E todas as suas obras, estavam em leilão.
Olhou para o lado, e pensou apenas naquele poente, que mais parecia nascente. Olhou para o céu, que mais parecia mar. Enxergou a poesia na música como a música no arco-íris. E a catarse surgiu. A Explosão surgiu com a intensidade de um vulcão. E o poeta/artista/pianista se enxergou como o único responsável por sua condição. Sua dura, estagnada e dolorida condição humana.

domingo, 5 de abril de 2009

Crepúsculo (dos Deuses?!?!)


Existem momentos em que a razão se perde. E a interrogação surge.
Existem momentos em que a vida se transforma. E a sensação se renova.
O Pôr do Sol e o Nascer do Sol são iguais. Nas duas situações, o céu, azul (claro ou escuro) se transforma em um alaranjado raivoso. Forte. Contrastante. É nesse momento que a calmaria se despede. Apenas nesse momento.
Nesse momento a calmaria dá espaço para a destreza, para a força, para a mudança.
O Crepúsculo surge como o divisor de águas no céu. Melhor seria, o divisor de núvens. Surge no momento exato onde o sol desperta, ou adormece.
E a vida se renova. A vida se transforma. A vida ou acorda, ou adormece. A vida se encontra. É nesse acontecimento, que a aurora se expande no céu. E a angústia se apresenta. E a dor se nomeia. E as coisas se concretizam. É na aurora que o pensamento pensa, e que a ação age.
O Crepúsculo é um presente dos deuses. É o Sunset Boulevard dos esperançosos e calmaria dos ansiosos. Mas é também a descoberta do segredo. Do escondido, do desconhecido. E é no Crepúsculo, que a dualidade é deparada.
A dicotomia é exemplificada. E o amor é introjetado.
Os olhos buscam o crepúsculo porque a visão é mágica. É um caos organizado. É o Caos transformado em Cosmos. O Crepúsculo é a sintonia com o interior. E a resposta para as questões angustiantes da vida.
A vida que segue seu rumo, que busca seu equilíbrio constante. E que se perde ao encontrar. A vida, esta tão falada vida, que apresenta a angústia, a dor, a alegria, o reconhecimento, tudo em conjunto, tudo ao mesmo tempo, e que obriga os olhos a desprenderem uma lágrima.
Ela continuou não pensando no poeta. E ele continuou se perdendo em seus Crepúsculos.
A vida não lhe apresentou a surpresa que tanto almejava. Apenas a mediocridade das cabeças ao redor. Em sua busca pelas surpresas que tanto almejava, decepcionou-se com a falta nos outros. E com a falta dela. E ainda que forte, ainda que difícil, ainda que estranho, tentou focar-se em algo que pudesse revolver sua alma. E encontrar a música certa para o momento do Crepúsculo. O difícil seria pensar no que fazer depois. Se iria acordar junto da força do sol; ou se iria dormir junto da melancolia da lua.

sábado, 4 de abril de 2009

Braços Abertos



Ele me recebeu de braços abertos. E ainda colocou um belo arco-íris na entrada da cidade.

O Rio de Janeiro é a Cidade Maravilhosa. Possui um coração em forma de lagoa e esconde segredos muito bem guardados.

Fui ao Rio. Meus presentes de aniversário foram passeios pela cidade. Desde o Corcovado, o Bondinho, a calçada famosa de Copacabana, até Ipanema.

Andei pela Praia de Ipanema da forma mais clichê possível: Ao som de "Garota de Ipanema" (Versão Tom Jobim e Frank Sinatra); coloquei meus pés na calçada famosa de Copacabana - Princesinha do Mar e deixei-me levar pelas ondas.

Fui ao Cristo. E recebi seu abraço. Senti a emoção percorrer fundo pela coluna e eriçar os pêlos. Foi algo maior do que a religião. Foi algo novo. Fazer parte de um patrimônio da humanidade. Andei nos dois (sim 2) bondinhos do Morro da Urca e Pão de Açucar (lugar de gente infeliz, feliz, triste, alegre...) e percebi como somos pequenos na imensidão da terra.

Subi em mirantes, e quanto mais subia, minha pequena peregrinação tomava forma. Questionamentos sempre surgiam, e mudanças dos meus valores aconteceram.

O dia seguinte foi em Petrópolis. Cidade Imperial, sede do Museu Imperial. Da Coroa do Brasil.

A Coroa do meu povo. Daqueles que juntos de mim, tentam batalhar por um país justo e democrático. A Coroa não é minha. Não foi de D.Pedro I e nem de D.Pedro II. A Coroa do Brasil é do Brasil. É de todos nós. É o símbolo máximo de que podemos nos elevar. A Coroa do Império obrigou-me a me ver como habitante ativo de meu país. E me emocionou.

Mais a frente, deparei-me com uma carta. No quarto de Princesa Isabel (ainda dentro do Museu). Ao lê-la, percebi que estava de frente à Lei Áurea. Outro ponto essencial no dia de hoje. Com aquele documento, de uma folha, extinguia-se um modelo de convivência há muito solicitado. Com algumas simples palavras, expressava-se o desejo de sermos todos iguais. Foi o começo, de uma luta que vem até hoje. E me emocionei.

Atrás de nosso Hotel, estava o Palácio do Catete, e consequentemente, o Museu da República. Fui da República ao Império (e não ao contrário) em menos de um dia. Entendi que a história é mais viva, pulsante, do que imaginava, e que ela se encontra nos pequenos detalhes. O traje Majestístico era verde e amarelo; assim como sua coroa. A Coroa que simbolizava a NOSSA ânsia pelo descobrimento, pelo desenvolvimento, e pela paz. E me emocionei.

O garoto encontrou o maestro na praia e juntos foram ao Largo. Lá, avistaram o Poeta, que escrevia em seu livro "Olhos de Ressaca" enquanto olhava para o mar à sua frente. E se emocionou.

A emoção foi o ápice desta visita. Em todos os momentos, emociononei-me ao me ver subindo e ampliando minha consciência. O Frio na barriga foi intenso ao adentrar pelas portas da Catedral e ver que o Imperador deitava-se alí em minha frente. Separado apenas por uma grade, estavam eu, um brasileiro que não desiste nunca, de um outro brasileiro, que ajudou a sustentar a tradição deste solo que piso.

O Rio de Janeiro serviu de palco para descobertas. Para aprendizados e acima de tudo para reflexões. Reflexões que pediram a junção da mente, do corpo e do coração.

E o aniversário tornou-se apenas o pretexto para que tal fusão pudesse ocorrer...