Mas não era isso que queria. Que desejava.
O sonhador, assim como o Trovador, conhecia a dor. Ele pelo som. O outro pelo trovão.
Hoje o rapaz viu o labirinto. Hoje o rapaz sentiu as curvas perigosas daquele local. Hoje ele se deparou com a sua solidão.
Hoje, e apenas hoje o o trovador, o poeta, o herói, o garoto e rapaz se depararam com o mesmo labirinto. Com as mesmas curvas. Com os mesmos obstáculos.
Com a mesma solidão. E apenas por hoje, decidiram se unir para batalhar contra ela. Isso tudo foi hoje. Hoje o rapaz não viu a lua. Mas também não viu o sol.
Hoje, apenas hoje o trovador, o poeta, o herói, o garoto e o rapaz se depararam com o mesmo labirinto. E perceberam que possuiam as mesmas respostas das diferentes perguntas que procuravam.
Ele olhou pro céu. E não entendeu absolutamente nada. Como aquelas estrelas não poderiam estar mais ali? Se estavam! Não estava ficando louco, ou pelo menos achava isso.
Tentava compreender aquele fenômeno, mas não conseguia. Queria racionalizar aquele momento, mas a poesia era tamanha, que não foi possível.
O menino então sentou no chão, e olhou o horizonte. Via pequenos brilhos, faixos de luz lá na escuridão do céu. Lembrou-se imediatamente dos Vagalumes. Seres que piscavam.
As estrelas eram os vagalumes do mundo superior. As estrelas eram a prova que existia vida no céu. E que o Universo sim, poderia ser infinito. O menino acredita que o Universo poderia ser o local comum à todos. E a tudo.
A vida do menino era grande. Tão grande quanto a imensidão do Universo. Tão grande quanto o brilho daquelas estrelas.
O menino não fez mais nada. Ficou em seu lugar e apenas observou. E nesse movimento, lá longe novamente, viu uma estrela cadente. E com isso, o céu derramou uma lágrima. Aquele menino nunca mais foi o mesmo. Presenciou o choro do céu. Presenciou a catarse do universo.
O céu chorou. E naquele momento, o menino descobriu o seu universo interior, particular, e acompanhou-o nesse movimento. O Universo, lá longe, no alto, no céu e o menino tão pequeno, tão lá longe, na terra. Os dois juntos, em uma grande serenata.
Encontravam-se todos os dias, em horários determinados e passavam as horas mais alegres juntos. Ele saia para caçar, ela cuidava de outras mulheres, as anciãs da aldeia.
Mas em todas as Lendas, em todas as histórias, existe a força contrária à dos protagonistas. E nesta lenda não seria diferente. Era personificada pela feiticeira da tribo, e uma das mulheres mais respeitadas de toda a redondeza. Guardava um amor secreto e doentio pelo guerreiro, porém, sabia que não poderia nunca expressar-se para ele. Deizer-lhe o que realmente sentia. Os deuses não haviam preparado aquele destino para ela.
Via todos os dias os dois se apaixonarem cada vez mais. E aquele sentimento de não-pertença tornava-se cada vez maior. Se o Guerreiro não fosse dela, não poderia ser de mais ninguém.
Chamou todos os sacertodes, realizou todos os feitiços possíveis, com a intenção de separar aquele amor. Aquele sentimento responsável por suas lágrimas. E pediu. Em suas preces, pediu a separação, o coração partido daqueles amantes. A angústia e a dor. E conseguiu.
Na manhã seguinte, um astro, um círculo flamejante surgia no céu. Com seus raios fortes, investia força nos seres vivos, que começavam um novo dia de vida. E assim ficou. Cada momento que passava, percebia-se que o Sol, nome dado àquele objeto, chegava mais perto da montanha no horizonte. E ele era responsável em levar com ele a claridade e trazer a escuridão. Até que ele se apagou totalmente no céu.
A população indígena sentia-se surpresa. Um outro objeto surgia no céu. Uma esfera clara, que parecia chorar lá no alto, apresentava-se pela primeira vez naquela escuridão. Suas lágrimas brilhavam junto dela, em forma de pequenas estrelas. Novamente a tribo nomeu tal objeto, dessa vez com o termo Lua. E assim, igual ao Sol, cada momento que passava, a Lua chegava mais perto da montanha.
Os outros indígenas então, perplexos com tamanha novidade, deram conta que faltava o casal mais apaixonado que aquela tribo já conhecera. E foram à procura. Nada. A busca durou vários dias e várias noites. Eram abençoados pelo Sol e pela Lua.
A Feiticeira sabia o que havia acontecido. E sentia-se feliz por sua ação. Os dois nunca mais iriam passar um momento juntos. Enquanto ele estivesse no céu, ela não poderia estar. E ao adormcer, era o momento dela brilhar.
O Cacique, usando sua experiência adquirida com os anos, e entristecido com sumiço de sua filha, ao olhar para céu, pediu ao deuses que trouxessem o casal de volta. Nesse momento, uma lágrima da Lua caiu ao seu lado, e ele teve certeza do que havia acontecido.
Os deuses então, apresentaram uma solução. Aquele encantamento fora feito de tal maneira, que a única pessoa capaz de quebrá-lo seria a feiticeira. Porém, eles criaram um fenômeno, um acontecimento que duraria alguns minutos e que aconteceria de tempos em tempos. Deram o nome de Eclipse, a junção do Sol com a Lua.
Nesse momento, os dois poderiam se ver novamente. Poderiam sentir-se juntos, como um ser só novamente.
E o eclipse tornou-se o momento de expressão daquele amor. Daquele sentimento repreendido pela inveja e pelo individualismo.
Até hoje, olho para o céu com a esperança do Eclipse. Com a expectativa de que os dois amantes poderão se reencontrar e que o tempo irá parar apenas por alguns minutos para contemplar seu amor.
O Trovador escreve e canta o sentimento da humanidade. Em suas palavras canta tristeza, alegria, raiva e melancolia. Em seus versos, apresenta as imperfeições do ser. E em seu pensamento, acredita na vida.
A Vida é a essência daquilo que temos. A Vida é a unidade indivisível da existência. A Vida é a matéria-prima bruta do trovador.
Com a força de um trovão, o poeta entende a dor. Poeta que sente de longe o próprio sentimento como um trovão. Que elabora a dor. Que se transforma em humano.
O Palhaço se esconde atrás da máscara e o Trovador, atrás da Poesia. Faz dos versos seu castelo e do sentimento, idealiza seu amor. "O poeta é um fingidor" já dizia o mestre. O poeta é um trovador, digo eu. Fica cara a cara com a dor e finge dominá-la. Mas não consegue; e finge tão bem, que volta a sentir aquilo que nunca parou de sentir.
A vida virá nos olhos daquele que sente a lágrima da alegria da vida. E o Trovador diz, com os olhos marejados: "Quero-te como um cavaleiro que sobe montanhas, batalha contra dragões para poder te encontrar. Quero-te como a última lágrima de meu olhar. Quero-te pois meu coração não precisa mais procurar. Quero-te tanto, e tanto, e tanto, que o desejo de querer-te é o que faz minha alma chorar. Quero parar de buscar aquilo que já encontrei."
E com estas palavras, a vida se renova, e este novo Balaio prepara-se para abrigar novas idéias. E a vida prossegue...