sábado, 21 de março de 2009

Eclipse


Reza a Lenda que em um vilarejo indígena, há muitos e muitos anos atrás, existiu um casal de jovens que estavam prometidos para passarem suas vidas inteiras juntas. Ela, filha do cacique da aldeia, e ele, o guerreiro mais respeitado da tribo.

Os dois descobriram o amor. E perceberam que não haveria problema nenhum em estarem prometidos um para o outro.

Encontravam-se todos os dias, em horários determinados e passavam as horas mais alegres juntos. Ele saia para caçar, ela cuidava de outras mulheres, as anciãs da aldeia.

Mas em todas as Lendas, em todas as histórias, existe a força contrária à dos protagonistas. E nesta lenda não seria diferente. Era personificada pela feiticeira da tribo, e uma das mulheres mais respeitadas de toda a redondeza. Guardava um amor secreto e doentio pelo guerreiro, porém, sabia que não poderia nunca expressar-se para ele. Deizer-lhe o que realmente sentia. Os deuses não haviam preparado aquele destino para ela.

Via todos os dias os dois se apaixonarem cada vez mais. E aquele sentimento de não-pertença tornava-se cada vez maior. Se o Guerreiro não fosse dela, não poderia ser de mais ninguém.

Chamou todos os sacertodes, realizou todos os feitiços possíveis, com a intenção de separar aquele amor. Aquele sentimento responsável por suas lágrimas. E pediu. Em suas preces, pediu a separação, o coração partido daqueles amantes. A angústia e a dor. E conseguiu.

Na manhã seguinte, um astro, um círculo flamejante surgia no céu. Com seus raios fortes, investia força nos seres vivos, que começavam um novo dia de vida. E assim ficou. Cada momento que passava, percebia-se que o Sol, nome dado àquele objeto, chegava mais perto da montanha no horizonte. E ele era responsável em levar com ele a claridade e trazer a escuridão. Até que ele se apagou totalmente no céu.

A população indígena sentia-se surpresa. Um outro objeto surgia no céu. Uma esfera clara, que parecia chorar lá no alto, apresentava-se pela primeira vez naquela escuridão. Suas lágrimas brilhavam junto dela, em forma de pequenas estrelas. Novamente a tribo nomeu tal objeto, dessa vez com o termo Lua. E assim, igual ao Sol, cada momento que passava, a Lua chegava mais perto da montanha.

Os outros indígenas então, perplexos com tamanha novidade, deram conta que faltava o casal mais apaixonado que aquela tribo já conhecera. E foram à procura. Nada. A busca durou vários dias e várias noites. Eram abençoados pelo Sol e pela Lua.

A Feiticeira sabia o que havia acontecido. E sentia-se feliz por sua ação. Os dois nunca mais iriam passar um momento juntos. Enquanto ele estivesse no céu, ela não poderia estar. E ao adormcer, era o momento dela brilhar.

O Cacique, usando sua experiência adquirida com os anos, e entristecido com sumiço de sua filha, ao olhar para céu, pediu ao deuses que trouxessem o casal de volta. Nesse momento, uma lágrima da Lua caiu ao seu lado, e ele teve certeza do que havia acontecido.

Os deuses então, apresentaram uma solução. Aquele encantamento fora feito de tal maneira, que a única pessoa capaz de quebrá-lo seria a feiticeira. Porém, eles criaram um fenômeno, um acontecimento que duraria alguns minutos e que aconteceria de tempos em tempos. Deram o nome de Eclipse, a junção do Sol com a Lua.

Nesse momento, os dois poderiam se ver novamente. Poderiam sentir-se juntos, como um ser só novamente.

E o eclipse tornou-se o momento de expressão daquele amor. Daquele sentimento repreendido pela inveja e pelo individualismo.

Até hoje, olho para o céu com a esperança do Eclipse. Com a expectativa de que os dois amantes poderão se reencontrar e que o tempo irá parar apenas por alguns minutos para contemplar seu amor.

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