quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Notas sobre a Adolescência

Há alguns anos atrás eu era um adolescente. Hoje, eu estudo sobre a adolescência.

Naquela época (há mais ou menos uns 10 anos) não tínhamos consciência de que a Adolescência seria caracterizada por um período de descobertas e angústias, onde o ser humano continua seu processo de desenvolvimento e evolução.

Não não! Apenas vivíamos nossa vida, nossa rotina. Acordávamos cedo, íamos para a Escola, estudávamos (para provas, trabalhos, no meu caso, exatas nunca foi completamente entendida!).  A tarde, encontrávamos no clube da cidade.

Alguns faziam inglês em outra escola, outros passavam as tardes na escola, outros no clube.

Nessa rotina, vivíamos as nossas descobertas. As nossas angústias e alegrias desta etapa da vida. Mas não de forma "normal ou adequada"; apenas de forma natural.

Alguns preferiam um livro, outros uma partida de futebol. Alguns eram os alvos de chacotas, outros eram os que as faziam.

Mas todos nós continuávamos. Uns namoravam, outros ficavam e outros nem isso. Uns eram mais tímidos, outros mais atirados. Mas éramos felizes?

Acredito que sim.

Há 10 anos, a vida era diferente. Nosso mundo era pequeno, confortável, mas extremamente angustiante. Eram angústias que, ao aprender sobre elas no futuro, começavam a nos forçar a sair da inércia da zona de conforto.

Assistíamos a programas na televisão que serviam para diminuir nossos questionamentos, afinal, não éramos os únicos a sentir tudo aquilo. Ouvíamos músicas para exemplificar as sensações.

Mas todos nós sabíamos que era passageiro.

E a nossa realidade era modificada a cada dia. O coração sempre aos pedaços, pois nos apaixonávamos com a mesma facilidade que dizíamos "Olá". Mas a cada decepção, a dor era sempre enorme.
As amizades que sabíamos que seriam para toda a vida, mostraram-se ser com menos pessoas do que imaginávamos.

E continuávamos a seguir nossos caminhos.

Alguns choravam mais que outros. Alguns passavam por experiências que mexiam com todos ao redor. Alguns faziam festas, que ficaram marcadas em nossos corações.

Porque aquilo, era a nossa existência.

Ser adolescente há 10 anos atrás era bem diferente do que ser adolescente nos dias de hoje. Não tínhamos smartphones, iPods nem notebooks - o mais perto que chegávamos de tecnologia era a calculadora científica bacanuda da Casio para aulas de matemática! Não havia Justin Bieber, High School Musical nem Linkin Park ou Slipknot.

Discutíamos sobre o Nirvana ser bem melhor do que Gun`s em show ao vivo... sobre quem ficaria com a Joey no final de Dawson`s Creek. Assistíamos Malhação na época em que se passava em uma academia com a música do Lulu Santos de tema musical ("Ainda vai levar um tempo, pra fechar o que feriu por dentro, natural que seja assim, tanto pra você quanto pra mim").
Ficávamos angustiados porque nunca teríamos a chance de participar de um show do "Legião", mas todos sabíamos de cabeça, a letra de "Faroeste".

Usávamos All-Star porque nossos ídolos usavam. Ou aquelas botinhas "Lui-Lui" porque a moda era ser do surfe!

Não éramos melhores nem piores do que os adolescentes de hoje. Éramos apenas adolescentes que cresciam naturalmente. O mesmo grupo, na mesma cidade, na mesma escola.

E foi assim até 2002.

Naquela formatura o grupo se separou. Uns foram trabalhar, outros foram estudar. Humanas, exatas, biológicas, enfim, cada um sentia-se pronto, preparado para iniciar sua "vida adulta", afinal, já iriam para a Faculdade. Outros para o cursinho.

Mas cada um iria para um caminho. Para o seu caminho.

A adolescência é um período desenvolvimental onde o ser humano começa a tomar consciência sobre o seu papel no mundo. É nessa fase da vida, que continua, porém com mais intensidade, a formulação de sua identidade e de seus papéis sociais.

Na adolescência, aprendemos a nos apaixonar. E porque não a amar também.  Testamos e descobrimos,   ampliamos o mundo a nossa volta, explorando cada centímetro com olhos de uma criança.

Afinal, ainda não somos adultos, mas também não somos mais crianças.

Não pintamos nossas caras e não tiramos um presidente do poder. Mas debatíamos sobre partidos políticos e treinávamos nossa argumentação nas aulas de história, com a professora (por baixo do pano, claro, pois a escola não permitia discussões político-partidárias).

Aquela adolescência não volta mais. O que fizemos ou deixamos de fazer (tirando as artes no sentido bem arteiro do termo) já fazem parte da nossa história.

É... há 10 anos atrás, eu era uma pessoa bem diferente desta que sou hoje. Nem melhor nem pior. Apenas diferente.

Hoje sou um Psicólogo formado que faz mestrado no outro lado do oceano. Mas se não fosse pela exploração que tive naquela escola, com aquelas pessoas há 10 anos atrás, poderia ser alguém bem diferente...
Adolescentes do ano de 2002 - Ensino Médio

Nenhum comentário:

Postar um comentário